O Escritor

- Beba. São pregos.
- Ah, vai se fudê.
- Cê tem algo a dizer?
- Não.
- Então...
- Ah, cara, que merda.
- Vai.

Ele acendeu o cigarro preto.

- Cê não tem nada a perder.
- Merda, cara.

Eu olhava pro copo de vidro cheio até a boca de pregos tamanho doze.

- Relaxa. É ou não é? Cê tem ou não tem algo a perder?
- Sei lá, cacete.
- Bebe.
- Caralho, vai foder minha garganta toda.
- Porra, não é esse o objetivo? – gritou.
- É, eu sei, eu sei. – disse, acuando amargurado. – Merda, não sei se eu consigo.
- Seu bicha.

Levantei pronto a quebrar a cara dele.

- Calma, calma. To ligado que é difícil. – disse com um sorriso torto, como que em tom de desculpas. – Senta aí.

Sentei.

- Cê sabe. Cê sabe que você quer.
- Ah, cara. – lamuriei.
- Só vai te dar vantagens. Puta experiência do caralho, cê sabe.
- Sei de porra nenhuma.

Silêncio e a fumaça dançando na penumbra.

- Cê quer desistir?
- Não.

Ele riu e tossiu.

- Manda pra dentro. Mata logo essas merdas desnecessárias.
- Queria comer uma lasanha pela última vez.
- Caralho, vai se fuder, cê não para de ch...
- Tá, tá bom – atropelei a bronca dele – eu paro, cara. Vô beber, relaxa.

O reboliço cessou e só ficou o silêncio e a fumaça, de novo. Tragou mais uma vez e apagou o toco de cigarro na mesa. Se inclinou em minha direção, debruçado na mesa, e me encarou duramente.

- Beba, são só pregos.

Bebi.

Hoje, só escrevo.